Donald Trump, presidente eleito dos Estados Unidos, gerou preocupação internacional ao ameaçar impor tarifas de 100% sobre produtos dos países do Brics, grupo que inclui Brasil, África do Sul, China, Índia, Rússia, Egito, Irã, Emirados Árabes Unidos e Etiópia. A ameaça surgiu em resposta a possíveis tentativas do bloco de substituir o dólar em transações comerciais internacionais.
“A ideia de que os países do Brics estão tentando se afastar do dólar enquanto nós ficamos parados assistindo ACABOU”, declarou Trump em sua rede social Truth Social. O republicano foi além: “Exigimos um compromisso desses países de que não criarão uma nova moeda do Brics, nem apoiarão nenhuma outra moeda para substituir o poderoso dólar americano, ou enfrentarão tarifas de 100% e devem esperar dizer adeus às vendas para a maravilhosa economia dos EUA”.
Os Estados Unidos são o segundo maior parceiro comercial do Brasil, atrás apenas da China. Em 2023, as exportações brasileiras para os EUA alcançaram US$ 36,9 bilhões, enquanto as importações somaram US$ 38 bilhões. Uma eventual tarifa de 100% poderia prejudicar significativamente o comércio bilateral.
José Augusto de Castro, presidente executivo da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), expressa preocupação: “Quando você fala 100% de tarifa, é como se dobrasse o preço do produto. E dobrando o preço, certamente a demanda vai ser retraída”.
O bloco Brics tem discutido a desdolarização, especialmente após as sanções financeiras impostas à Rússia em 2022. No entanto, especialistas apontam que não há planos concretos para criar uma moeda alternativa ao dólar. O governo da África do Sul já ressaltou que não existem projetos para uma moeda do Brics.
O professor Daniel McDowell, da Universidade de Syracuse, afirma que “a moeda do Brics é apenas uma ideia, não é realidade”. Segundo dados do FMI, o dólar mantém sua posição dominante, representando 58% das reservas internacionais, com aproximadamente US$ 7 trilhões.
Especialistas avaliam que as tarifas ameaçadas por Trump poderiam ter efeitos negativos também para a economia americana. Alan Deardorff, professor da Universidade de Michigan, alerta que tais medidas poderiam isolar os EUA da economia mundial e, paradoxalmente, reduzir a dependência global do dólar.
Além disso, a implementação dessas tarifas poderia resultar em retaliações comerciais, aumento de preços para consumidores americanos e possível pressão inflacionária, levando a um cenário de elevação nas taxas de juros.
A retórica de Trump é vista por especialistas como parte de sua estratégia de negociação, sendo improvável a implementação efetiva de tarifas tão elevadas. No entanto, o cenário gera apreensão no mercado internacional e especialmente entre os países do Brics.