Um estudo publicado na revista científica Nature Sustainability alerta sobre as graves consequências do desmatamento no Cerrado brasileiro para o agronegócio. A pesquisa, realizada pela UFMG em parceria com o centro de pesquisas Woodwell Climate Research, revela que os níveis elevados de desmatamento podem tornar a atividade agrícola economicamente inviável na região.
Nos últimos 20 anos, o Cerrado sofreu uma redução drástica em sua cobertura vegetal nativa, passando de 127 milhões de hectares para 95 milhões de hectares, enquanto as áreas agrícolas dobraram de 38 milhões para 77 milhões de hectares.
* Na safra 2020/21, chuvas 50% abaixo da média resultaram em perda de 7,3 milhões de toneladas de grãos
* A safra 2023/24 registrou prejuízos ainda maiores, com perda recorde de 11,9 milhões de toneladas de soja
* A produção de milho sofreu redução de 10%, gerando prejuízo estimado em R$ 35 bilhões
* Em áreas com vegetação nativa, houve redução de 29,1 milímetros de chuva na primeira safra e 9,2 milímetros na segunda
* Regiões desmatadas apresentaram quedas muito maiores: 90,5 milímetros e 109,1 milímetros respectivamente
* Nas áreas desmatadas, observou-se atraso de dez dias a cada dois anos no início da estação chuvosa
“É agrossuicídio”, adverte o engenheiro florestal Argemiro Teixeira Leite Filho, professor na UFMG, sobre a situação atual. “A relação causa-consequência é praticamente direta. Enquanto as mudanças climáticas globais são fruto de um efeito cumulativo de emissão de gases de efeito estufa ao longo dos anos, o clima regional e local é alterado instantaneamente quando se tira a vegetação”, esclarece.
O estudo também revela que o Cerrado já perdeu mais de 50% de sua cobertura nativa. Segundo a ecóloga Isabel Benedetti Figueiredo, “estamos chegando muito perto de um ponto em que o bioma vai colapsar e, quando isso ocorrer, todo o país será prejudicado, pois os biomas são todos interconectados”.
Especialistas indicam que ainda há tempo para reverter o processo, mas a janela de oportunidade está se fechando rapidamente. A solução passa por parar imediatamente a abertura de novas áreas para agropecuária e iniciar a recomposição da vegetação nas regiões mais afetadas pelo desmatamento.