A vitória do republicano Donald Trump nas eleições presidenciais dos Estados Unidos marca uma nova era nas relações internacionais, embora não deva provocar mudanças significativas no relacionamento bilateral com o Brasil. Esta é a análise do especialista Carlos Gustavo Poggio, professor de Relações Internacionais da Berea College, Kentucky.
A eleição, que culminou com a derrota da democrata Kamala Harris na última terça-feira (5/11), representa o fortalecimento de um estilo político específico e uma corrente ideológica particular, segundo o especialista.
* Os Estados Unidos, sob nova administração Trump, devem abandonar definitivamente a proposta de construção de uma ordem internacional estabelecida após a Segunda Guerra Mundial
* O país deve adotar uma postura mais isolacionista, nacionalista e protecionista
* Iniciativas globais que necessitam de cooperação internacional provavelmente não contarão mais com participação americana
* Países europeus precisarão se reorganizar sem contar com o apoio dos EUA
* A América Latina e o Brasil não são prioridades para os Estados Unidos, situação que deve permanecer inalterada
* A região só ganha destaque na agenda americana quando relacionada à questão da imigração
* Historicamente, as relações Brasil-EUA mantêm estabilidade, com apenas pequenas alterações de percurso
O especialista critica o posicionamento do presidente Lula antes das eleições, quando declarou apoio à Kamala Harris e criticou Trump em entrevista à emissora francesa TF1+. No entanto, Poggio elogia a rápida correção de rota após o resultado, quando Lula parabenizou o republicano.
“É uma lembrança de que a política externa deve ser feita com o cérebro, e não com o coração”, afirma Poggio, acrescentando que “o grande erro do governo Bolsonaro foi achar que uma boa relação com Trump se traduziria em uma boa relação com os EUA.”
O analista destaca que, assim como nos Estados Unidos, onde a economia foi fator decisivo para a derrota de Harris, as próximas eleições brasileiras também devem ser definidas pela situação econômica do país, mais do que por alinhamentos ideológicos.