As eleições municipais no interior do Brasil apresentam uma dinâmica peculiar, onde o voto consciente muitas vezes dá lugar ao que pode ser chamado de ‘voto de cabresto afetivo’. Este fenômeno ocorre quando eleitores que migraram para grandes cidades mantêm seus títulos eleitorais em suas cidades natais, retornando para votar em um ambiente onde laços familiares e tradições locais têm forte influência nas decisões eleitorais.
Nesse cenário, o dia da eleição nas cidades pequenas ganha ares de festividade, assemelhando-se a um ‘Natal expresso’ ou um ‘São João pop up’. É uma oportunidade para os eleitores revisitarem suas raízes, reencontrarem familiares e amigos, e se atualizarem sobre as novidades locais.
• A influência familiar nas decisões eleitorais é significativa. Muitos eleitores, especialmente aqueles que não residem mais na cidade, acabam seguindo as orientações de seus pais ou familiares mais velhos ao escolher candidatos a prefeito e vereador. É como dizem ‘muito acima das inegociáveis convicções que norteiam minhas escolhas de presidentes, governadores e deputados – no dia de votar em prefeito e vereador, o que sempre valeu foi a opinião de Painho e Mainha.’
• Os candidatos estão cientes dessa realidade e adaptam suas estratégias de campanha. Famílias numerosas ou influentes são vistas como ‘conjuntos de eleitores’, tornando-se alvos importantes para a propaganda eleitoral e or isso, a disputa por colocar a propaganda do candidato em certas casas é acirrada.
• Uma prática interessante em famílias maiores é a ‘divisão de votos’. Para garantir benefícios independentemente do resultado, algumas famílias distribuem seus votos entre os principais candidatos. ‘Por exemplo, metade da família vota em cada um dos candidatos ‘mais fortes’ a prefeito. Dois ou três vereadores também entram na partilha, e os adesivos vão todos para a fachada da casa ‘democrática e includente’.’
• O número de candidatos a vereador costuma ser surpreendentemente alto, refletindo muitas vezes a busca por emprego e melhoria de vida. ‘É o problema do desemprego. Além dos cargos na prefeitura, a Câmara é disputada a murros, tapas e gritos.’
• Após as eleições, a cidade vive momentos de comentários e análises sobre os resultados. Perdedores frequentemente expressam decepção: ”Crendeuspai, só teve 37 votos’, ‘Oxe, não disse que tava eleito?’, ‘meninaaaa, quem diria?’…’
Apesar das críticas a esse sistema e das promessas de mudança, muitos eleitores continuam mantendo seus títulos nas cidades de origem, perpetuando esse ciclo, voltam a exercer o seu ‘voto de cabresto afetivo’, tranquilo, feliz e achando até simpático mais esse sentido para a palavra ‘família’.’