Ibama ignora recomendação técnica e mantém licenciamento de exploração de petróleo na Amazônia

Ibama ignora recomendação técnica e mantém licenciamento de exploração de petróleo na Amazônia

Apesar de parecer contrário de 26 analistas, instituto mantém processo de licenciamento da Petrobras para perfuração na Bacia da Foz do Amazonas

Um grupo de 26 analistas ambientais do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) recomendou, pela segunda vez, o indeferimento e arquivamento do pedido de licença da Petrobras para perfurar um bloco de petróleo na Bacia da Foz do Amazonas. Apesar disso, a presidência do instituto optou por dar continuidade ao processo, solicitando novas informações à petroleira.

O pedido de licenciamento refere-se à perfuração marítima no Bloco FZA-M-59, localizado no oceano Atlântico, a aproximadamente 170 quilômetros do Amapá e 560 quilômetros da foz do rio Amazonas. A Petrobras precisa comprovar a inexistência de impactos socioambientais ou apresentar um plano de mitigação para possíveis acidentes.

Os técnicos do Ibama apontaram diversas inconsistências no Estudo de Impacto Ambiental (EIA) e nas respostas fornecidas pela Petrobras. Destacaram-se preocupações com os impactos sobre populações indígenas e a biodiversidade local.

O presidente do Ibama, Rodrigo Agostinho, decidiu prosseguir com o processo, enviando um ofício à Petrobras solicitando esclarecimentos adicionais. Essa decisão gerou controvérsia entre especialistas.

Suely Araújo, coordenadora de Políticas Públicas do Observatório do Clima e ex-presidente do Ibama, comentou: ‘Não é ilegal. No entanto, o parecer está muito bem elaborado e mostra que, após várias chances, as respostas da Petrobras às contestações são insuficientes. O órgão vai estender até quando o pedido de complementações? Para mim está muito claro que seria melhor rejeitar e arquivar o processo.’

O processo de licenciamento do Bloco FZA-M-59 teve início em 2014. Em 2023, um parecer técnico inicial já havia recomendado o indeferimento da licença, mas o processo continuou.

O tema tem gerado debates intensos, especialmente considerando os eventos climáticos extremos recentes e o papel da indústria petrolífera nas emissões de gases de efeito estufa.

O parecer dos analistas ambientais destacou várias inconsistências nas informações fornecidas pela Petrobras. Uma das principais preocupações refere-se às consequências de um possível acidente Tier 1, termo usado para descrever incidentes significativos na indústria de petróleo e gás.

Quanto ao Plano de Proteção à Fauna (PPAF), o documento aponta que não foi apresentada uma alternativa viável para mitigar satisfatoriamente a perda de biodiversidade em caso de vazamento de óleo.

Em relação aos povos indígenas, o parecer indica que a Petrobras não considerou adequadamente alguns impactos, como o uso de aeronaves, e adotou uma conduta que poderia ampliar expectativas e potencializar conflitos no território afetado.

Suely Araújo analisa que o licenciamento deste bloco pode representar a abertura de uma nova fronteira para exploração de petróleo na região: ‘Eu acho que essa pressão toda pela licença do bloco 59 é uma espécie de tentativa de abertura de porteira para simplificar os futuros licenciamentos na Margem Equatorial. Tornaram o bloco 59 como um símbolo. É a porteira que vai ser aberta.’

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