Nos últimos anos, o Brasil tem observado uma tendência crescente de mulheres optando por não ter filhos, desafiando expectativas sociais e redefinindo seus papéis na sociedade. Segundo o Observatório Nacional da Família, a taxa de fecundidade no país caiu de 2,32 filhos por mulher em 2000 para 1,57 em 2023, com projeções indicando uma queda ainda maior para 1,47 até 2030.
Esta mudança reflete uma complexa interação de fatores sociais, econômicos e pessoais que influenciam as decisões das mulheres em relação à maternidade.
• A pressão para ser uma ‘supermulher’ capaz de equilibrar carreira, vida pessoal e maternidade tem levado muitas a questionar se a maternidade é realmente um desejo ou uma imposição social. A professora de psicologia Natália Sertori observa: ‘Boas mães seriam aquelas que assumem seus filhos em tempo integral sem se queixar. E, recentemente, com a mulher no mercado de trabalho e assumindo cargos, a mãe perfeita precisa dar conta dentro e fora de casa.’
• Joice Évelin Barbosa da Silva, 42 anos, analista de qualidade, representa uma crescente parcela de mulheres que decidiram não ter filhos. Ela compartilha: ‘A terapia também me ajudou muito nessa etapa de respeito e aceitação das minhas vontades, pois a cobrança da sociedade e de familiares meio que me obrigavam a ter que pensar em ser mãe’.
• A enfermeira Giovanna Azevedo, 27, ecoa sentimentos similares: ‘Nunca vi a maternidade de uma forma romântica’. Ela destaca os desafios que a maternidade impõe, especialmente para as mulheres: ‘Ser mãe é ter a consciência de que a vida nunca mais será a mesma, o corpo muda, a visão do mundo muda e com isso gera-se todo um espaço para o depois.’
• A socióloga Silvia Muiramomi aponta que a resistência à maternidade está ligada à luta contra o patriarcado e à busca por direitos e liberdade das mulheres. Ela observa: ‘Optar por não maternar é, de certa forma, um posicionamento político de enfrentamento aos papéis de gênero rígidos impostos pela sociedade patriarcal’.
• O movimento NoMo (not mothers) ganha força, refletindo preocupações com insegurança social, econômica e ambiental. Muiramomi explica: ‘Com o cenário de emergência climática e a ideia de escassez de recursos, cresce a sensação de vulnerabilidade.’
• A decisão de não ter filhos também está ligada à busca por estabilidade econômica e profissional. Muiramomi nota: ‘Ao evitar a maternidade, elas conseguem focar suas energias em suas carreiras, rompendo com a bolha da vulnerabilidade econômica que ainda afeta muitas mulheres.’
A narrativa de mulheres como Raquel Alves, 49, que passou por uma jornada de tentativas de gravidez antes de decidir não ter filhos, ilustra como essas decisões podem evoluir ao longo do tempo. Raquel reflete: ‘Eu me senti mais conectada comigo mesma quando, definitivamente, decidi que isso não era para mim’.
As experiências compartilhadas por essas mulheres destacam a complexidade das decisões relacionadas à maternidade e a importância de respeitar escolhas individuais. Como Renata Amorim, 49, sabiamente observa: ‘São escolhas diferentes. Quem tem filhos é feliz com as suas escolhas e quem não tem também pode ser feliz com outra forma de viver’.