A raiva, frequentemente vista como uma emoção negativa e destrutiva, está sendo reavaliada por especialistas que argumentam sobre seu papel essencial e construtivo na sociedade e nas relações interpessoais. Tradicionalmente associada a conflitos e problemas, a raiva agora é apresentada como uma força potencialmente transformadora quando compreendida e canalizada adequadamente.
Alexandre Coimbra Amaral, psicólogo e escritor, defende: ‘A raiva é a energia da mudança. É uma emoção imperativa, que manda agir. É o veículo que transforma a indignação em diálogo. Não existe conversa difícil sem raiva, porque a raiva não nos deixa desistir dos nossos valores, e nos move em direção a eles.’
• A neurocientista Thais Gameiro explica o aspecto biológico da raiva:
A raiva faz parte de um conjunto de emoções que aciona nosso sistema cerebral motivacional defensivo. Diferentemente de outras emoções defensivas, a raiva parece ter um forte componente de aproximação, motivando a pessoa a agir diretamente sobre o que a provocou.
• Vivian Rio Stella, especialista em Comunicação Não Violenta, ressalta a importância de reconhecer e expressar a raiva:
‘Primeiro, é preciso ter coragem para dizer que se está com raiva, usar mesmo a palavra. Há pessoas que a evitam até no vocabulário, mas trazê-la para o campo da linguagem é importante.’
• A questão de gênero na expressão da raiva:
Alexandre Coimbra Amaral aponta que a raiva é percebida diferentemente entre homens e mulheres. Enquanto em homens pode ser vista como sinal de potência e ousadia, em mulheres frequentemente é interpretada como algo que dificulta vínculos ou até mesmo como ‘loucura’ ou ‘histerismo’.
• O exemplo de Mahatma Gandhi:
Surpreendentemente, até mesmo Mahatma Gandhi, conhecido por sua filosofia pacifista, reconhecia o papel da raiva em sua vida. Seu neto, Arun Gandhi, relata no livro ‘A Virtude da Raiva’ como o líder indiano canalizou sua indignação em ações construtivas, como o movimento de fiação para promover a autossuficiência na Índia.
• A importância de não reprimir a raiva:
Especialistas argumentam que reprimir a raiva pode levar à perda de oportunidades de autoconhecimento e mudança necessária. É crucial aprender a reconhecer as necessidades não atendidas que geram a raiva e transformá-la em ação construtiva.
Alexandre Coimbra Amaral conclui: ‘É urgente começar a atribuir à raiva momentos transformadores da nossa vida. Quem a incrimina é quem tem medo de mudar.’